Como identificar e resolver
problemas econômico-financeiros nas empresas
Quando há uma crise econômica e/ou financeira
instalada numa organização, é imperioso que se busquem alternativas para
superá-la. Tais alternativas dependem de uma análise que busca
compatibilizar os números reais da empresa e seu ambiente operacional.
Em Administração e, especialmente, em Administração Financeira, não existe
solução única; o que há é a solução viável e mais adequada para aquele
momento ou circunstâncias. Por isso, em termos práticos, é importante
fazer várias simulações, até se encontrar aquela que se pareça mais
adequada e até para se ter outras possibilidades previamente alinhadas em caso
de dificuldades na implantação da estratégia inicialmente definida. Neste
momento torna-se muito importante ser conhecedor das Ciências Contábeis.
Como identificar se uma empresa está entrando em crise
Mesmo
que a empresa não tenha um sistema organizado de análise de suas demonstrações
contábeis, existem alguns indicadores informais que fornecem evidências fortes
de que uma crise financeira está a caminho ou já está instalada em uma
organização. Os principais são:
- Ocorrência de títulos apontados no Cartório, com ou sem protesto;
- Necessidade de atrasar impostos para manter as contas em dia;
- Necessidade frequente de renegociar prazo de títulos com fornecedores;
- Emissão de cheques da pessoa física para cobrir contas da pessoa jurídica;
- Oferta de crédito bancário apenas na forma de aumento do limite do cheque especial da pessoa física;
- Captação de recursos através de agentes informais (os populares “agiotas” ou “locadores autônomos de recursos financeiros”)
Sempre
que identificado algum destes sintomas típicos ou alguma outra evidência
similar, é urgente que se façam levantamentos adicionais para dimensionar o tamanho
real do problema e buscar a solução mais apropriada. A contabilidade da
empresa certamente é peça chave a ser analisada.
Entendendo a crise financeira
O
desenvolvimento de alternativas não é mero exercício de “brincar com números”.
Embora não se deva colocar limites à criatividade na busca de soluções, há alguns princípios muito elementares que precisam ser observados. Segue-se uma breve lista.
Dica número 1: O diagnóstico completo da empresa
No
surgimento de crises financeiras, as posturas mais comuns são a negação e a
externalização da culpa. Na negação, considera-se que é uma situação
passageira, que será resolvida naturalmente em poucos dias. Na
externalização, se buscam outros culpados, como concorrência predatória, a
carga tributária, a falta de infraestrutura pública e a inflação,
dentre outros. Até os clientes passam a ser culpados por não entenderem a
proposta ou os atrativos da empresa. Por vezes, inclusive fatores sob
administração direta passam a ser culpados, como a falta de mão-de-obra, a
baixa qualificação ou disposição para o trabalho do pessoal interno, a
demora do pessoal da informática em fornecer soluções, a enrolação do pessoal
da engenharia no desenvolvimento de produtos, etc.
Compreende-se
que estas posturas, de negação e externalização, são humanas. Mas não combinam
com a racionalidade exigida na gestão de uma empresa, especialmente
num momento de crise. Para derrubar a hipótese da externalização, basta
verificar que a maior parte das empresas operantes no mesmo mercado
continua ativa.
O
ponto de partida é compreender que:
1º)
As causas da crise sempre têm alguns ou muitos componentes internos (no
mínimo, faltou prever mudanças no ambiente externo);
2º) Uma
crise financeira é quase sempre multifatorial.
Dica Número 2: A visão de emergência
Crise
financeira é algo que se retroalimenta de forma cada vez mais rápida. O
prejuízo do mês atual sempre tende a ser maior do que o do mês anterior. Por
isso, o diagnóstico e a tomada de decisões devem ser rápidos. Por vezes
(quase sempre), é melhor perder algum dinheiro de imediato do que
postergar uma decisão.
Dica número 3: O imperativo ambiental
Qualquer
solução proposta deve ser compatível com o ambiente de negócios que está sendo
estudado. Não se pode, por exemplo, pretender trabalhar somente com vendas à
vista num mercado habituado a vendas a prazo, mas, talvez, seja possível
terceirizar o financiamento.
Mesmo
que o imperativo ambiental seja um princípio extremamente importante, isso não
invalida a busca de soluções inovadoras. Porém, quaisquer que sejam tais
inovações, normalmente há um alto custo a pagar em termos de imagem de
mercado, clima interno ou outras consequências.
Dica número 4: A validade transitória
Qualquer
solução proposta é válida para aquele momento. Em crises financeiras, a
deterioração da situação tende a ser muito rápida, de tal forma que aquilo que
resolve o problema hoje pode não ser mais suficiente daqui a 30 ou 60 dias.
Aliás, qualquer solução implantada precisa ser continuamente revisada e ajustada, em intervalos de tempo bastante curtos (no máximo, a cada mês). O não atingimento das metas estimadas e as mudanças do ambiente de negócios exigem reavaliação contínua.
Aliás, qualquer solução implantada precisa ser continuamente revisada e ajustada, em intervalos de tempo bastante curtos (no máximo, a cada mês). O não atingimento das metas estimadas e as mudanças do ambiente de negócios exigem reavaliação contínua.
Dica número 5: A prioridade para a solução interna
É
fácil resolver problemas financeiros através de busca de empréstimos bancários
ou junto a outras fontes, como sócios ou até no mercado informal. É necessário,
porém, compreender que crises financeiras, em sua quase totalidade, resultam de
decisões equivocadas ou hábitos de trabalho incompatíveis com a
organização. Assim, mesmo que algum recurso externo seja alocado, as
soluções internas sempre são imprescindíveis.
Soluções
internas, em síntese, são propostas que priorizam a realocação de recursos
já existentes dentro da organização e/ou impliquem na adoção de novas
políticas comerciais, de produção ou administrativas.
Gestão de Crise – Como solucionar uma crise em uma empresa
Não
há uma regra única a ser seguida na gestão de crises econômicas e/ou
financeiras e nem um roteiro pré-determinado. Apesar disso, a experiência
tem ensinado que existem alguns pontos importantes que devem ser
observados. A lista a seguir apresenta os principais.
Distinção entre resultado operacional e financeiro
O
sistema contábil brasileiro considera que as despesas financeiras sejam
consideradas como despesas operacionais e que as receitas financeiras
sejam redutoras das despesas operacionais. Para contornar esta distorção,
a primeira providência sempre recomendada é desmembrar o resultado
operacional da Demonstração de Resultados do Exercício em resultado
financeiro (receitas financeiras menos despesas financeiras) e resultado operacional
real (resultado operacional contábil menos resultado financeiro).
Identificação de ativos circulantes ociosos
É
muito mais comum do que se imagina a existência de valores altamente ociosos
nas contas do Ativo Circulante e que só se tornam visíveis após uma análise
minuciosa, que vai muito além da simples análise contábil.
Há
dois exemplos clássicos. O primeiro deles está nas contas a receber de
clientes, que podem ter muitos valores em atraso, que podem ser
recuperados com algum esforço extra de cobrança e alguma flexibilidade na
negociação. Em muitas situações, é possível fazer contratos de renovação de
dívida, transformando uma conta perdida e um título a receber, que, mesmo com
algum prazo adicional, permite usá-lo como garantia na obtenção de recursos
bancários (obviamente, com taxas um tanto elevadas). Outro exemplo clássico
está nos estoques, nos quais há duas variáveis a observar. A primeira variável
são os estoques encalhados, por serem itens fora de linha ou fora de moda. São
itens que precisam ser liquidados, até como forma de liberar espaços
imobilizados. A outra variável são os estoques excessivos. São itens que giram
normalmente, mas cujo volume estocado está num patamar muito elevado,
provocando um prazo médio de renovação exagerado. Neste caso, é perfeitamente
possível promover a venda (com descontos especiais ou outros recursos de
estímulo à demanda) dos volumes excedentes.
Além
destes exemplos clássicos, um exame atento das demais contas pode revelar a
existência de “dinheiro parado”. Alguns casos que podem ocorrer: aplicações
financeiras que foram exigidas como “reciprocidade” em empréstimos;
adiantamentos a fornecedores; impostos a recuperar.
Revisão dos prazos médios operacionais
As
necessidades de capital de giro são decorrência quase direta dos prazos médios
de operação e do volume de vendas. Raramente se adota a solução de reduzir
vendas. Então, uma das possibilidades é reduzir os prazos médios de renovação
de estoques e de recebimento das vendas e aumentar o prazo médio de pagamento
das compras.
Estas
modificações, em termos práticos, enfrentam algumas dificuldades, sendo a
principal o imperativo ambiental. É difícil mudar prazos concedidos a clientes
e prazo obtido junto a fornecedores, pois são questões de hábitos de mercado.
Porém,
sempre existem possibilidades. Em todos os prazos, sempre que possível, se faz
análise comparativa com os dados de concorrentes, podendo-se, para tanto, usar
dados de publicações especializadas. Sempre que houver diferenças
significativas, é o caso de avaliar as causas.
Além
desta visão de mercado, alguns ajustes internos podem gerar pequenas melhorias
que, no seu somatório, podem fazer a diferença necessária. Nos estoques, é
possível fazer promoções de vendas para liquidar estoques excedentes ou
ociosos, cuidando, porém, para que tais vendas sejam feitas a prazos curtos.
Nas contas a receber, é possível estimular prazos mais curtos, podendo,
para tanto, serem usados acréscimos menores e/ou incentivos aos
vendedores. Com os fornecedores, embora seja possível negociar prazos mais
longos, é necessário avaliar o impacto financeiro, pois, cada vez mais, há a
oferta de bons descontos para compra em prazos mais curtos. Ainda em relação a
fornecedores, não se pode cair na armadilha de compras em volumes maiores para
conseguir prazos maiores. Aliás, pelo contrário, uma das formas de
acelerar o giro de estoque é negociar a entrega parcelada das mercadorias ou
materiais comprados.
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