segunda-feira, 1 de julho de 2013

Crise Financeira – Como identificá-la e solucioná-la em uma empresa?




Como identificar e resolver problemas econômico-financeiros nas empresas
Quando há uma crise econômica e/ou financeira instalada numa organização, é imperioso que se busquem alternativas para superá-la. Tais alternativas dependem de uma análise que busca compatibilizar os números reais da empresa e seu ambiente operacional. Em Administração e, especialmente, em Administração Financeira, não existe solução única; o que há é a solução viável e mais adequada para aquele momento ou circunstâncias. Por isso, em termos práticos, é importante fazer várias simulações, até se encontrar aquela que se pareça mais adequada e até para se ter outras possibilidades previamente alinhadas em caso de dificuldades na implantação da estratégia inicialmente definida. Neste momento torna-se muito importante ser conhecedor das Ciências Contábeis.

Como identificar se uma empresa está entrando em crise

Mesmo que a empresa não tenha um sistema organizado de análise de suas demonstrações contábeis, existem alguns indicadores informais que fornecem evidências fortes de que uma crise financeira está a caminho ou já está instalada em uma organização. Os principais são:
  • Ocorrência de títulos apontados no Cartório, com ou sem protesto;
  • Necessidade de atrasar impostos para manter as contas em dia;
  • Necessidade frequente de renegociar prazo de títulos com fornecedores;
  • Emissão de cheques da pessoa física para cobrir contas da pessoa jurídica;
  • Oferta de crédito bancário apenas na forma de aumento do limite do cheque especial da pessoa física;
  • Captação de recursos através de agentes informais (os populares “agiotas” ou “locadores autônomos de recursos financeiros”)
Sempre que identificado algum destes sintomas típicos ou alguma outra evidência similar, é urgente que se façam levantamentos adicionais para dimensionar o tamanho real do problema e buscar a solução mais apropriada. A contabilidade da empresa certamente é peça chave a ser analisada.

Entendendo a crise financeira

O desenvolvimento de alternativas não é mero exercício de “brincar com números”.

Embora não se deva colocar limites à criatividade na busca de soluções, há alguns princípios muito elementares que precisam ser observados. Segue-se uma breve lista.

Dica número 1: O diagnóstico completo da empresa


No surgimento de crises financeiras, as posturas mais comuns são a negação e a externalização da culpa. Na negação, considera-se que é uma situação passageira, que será resolvida naturalmente em poucos dias. Na externalização, se buscam outros culpados, como concorrência predatória, a carga tributária, a falta de infraestrutura pública e a inflação, dentre outros. Até os clientes passam a ser culpados por não entenderem a proposta ou os atrativos da empresa. Por vezes, inclusive fatores sob administração direta passam a ser culpados, como a falta de mão-de-obra, a baixa qualificação ou disposição para o trabalho do pessoal interno, a demora do pessoal da informática em fornecer soluções, a enrolação do pessoal da engenharia no desenvolvimento de produtos, etc.
Compreende-se que estas posturas, de negação e externalização, são humanas. Mas não combinam com a racionalidade exigida na gestão de uma empresa, especialmente num momento de crise. Para derrubar a hipótese da externalização, basta verificar que a maior parte das empresas operantes no mesmo mercado continua ativa.
O ponto de partida é compreender que:
1º) As causas da crise sempre têm alguns ou muitos componentes internos (no mínimo, faltou prever mudanças no ambiente externo);
2º) Uma crise financeira é quase sempre multifatorial.

Dica Número 2: A visão de emergência

Crise financeira é algo que se retroalimenta de forma cada vez mais rápida. O prejuízo do mês atual sempre tende a ser maior do que o do mês anterior. Por isso, o diagnóstico e a tomada de decisões devem ser rápidos. Por vezes (quase sempre), é melhor perder algum dinheiro de imediato do que postergar uma decisão.

Dica número 3: O imperativo ambiental

Qualquer solução proposta deve ser compatível com o ambiente de negócios que está sendo estudado. Não se pode, por exemplo, pretender trabalhar somente com vendas à vista num mercado habituado a vendas a prazo, mas, talvez, seja possível terceirizar o financiamento.
Mesmo que o imperativo ambiental seja um princípio extremamente importante, isso não invalida a busca de soluções inovadoras. Porém, quaisquer que sejam tais inovações, normalmente há um alto custo a pagar em termos de imagem de mercado, clima interno ou outras consequências.

Dica número 4: A validade transitória

Qualquer solução proposta é válida para aquele momento. Em crises financeiras, a deterioração da situação tende a ser muito rápida, de tal forma que aquilo que resolve o problema hoje pode não ser mais suficiente daqui a 30 ou 60 dias.
Aliás, qualquer solução implantada precisa ser continuamente revisada e ajustada, em intervalos de tempo bastante curtos (no máximo, a cada mês). O não atingimento das metas estimadas e as mudanças do ambiente de negócios exigem reavaliação contínua.

Dica número 5: A prioridade para a solução interna

É fácil resolver problemas financeiros através de busca de empréstimos bancários ou junto a outras fontes, como sócios ou até no mercado informal. É necessário, porém, compreender que crises financeiras, em sua quase totalidade, resultam de decisões equivocadas ou hábitos de trabalho incompatíveis com a organização. Assim, mesmo que algum recurso externo seja alocado, as soluções internas sempre são imprescindíveis.
Soluções internas, em síntese, são propostas que priorizam a realocação de recursos já existentes dentro da organização e/ou impliquem na adoção de novas políticas comerciais, de produção ou administrativas.


Gestão de Crise – Como solucionar uma crise em uma empresa

Não há uma regra única a ser seguida na gestão de crises econômicas e/ou financeiras e nem um roteiro pré-determinado. Apesar disso, a experiência tem ensinado que existem alguns pontos importantes que devem ser observados. A lista a seguir apresenta os principais.

Distinção entre resultado operacional e financeiro

O sistema contábil brasileiro considera que as despesas financeiras sejam consideradas como despesas operacionais e que as receitas financeiras sejam redutoras das despesas operacionais. Para contornar esta distorção, a primeira providência sempre recomendada é desmembrar o resultado operacional da Demonstração de Resultados do Exercício em resultado financeiro (receitas financeiras menos despesas financeiras) e resultado operacional real (resultado operacional contábil menos resultado financeiro).

Identificação de ativos circulantes ociosos

É muito mais comum do que se imagina a existência de valores altamente ociosos nas contas do Ativo Circulante e que só se tornam visíveis após uma análise minuciosa, que vai muito além da simples análise contábil.
Há dois exemplos clássicos. O primeiro deles está nas contas a receber de clientes, que podem ter muitos valores em atraso, que podem ser recuperados com algum esforço extra de cobrança e alguma flexibilidade na negociação. Em muitas situações, é possível fazer contratos de renovação de dívida, transformando uma conta perdida e um título a receber, que, mesmo com algum prazo adicional, permite usá-lo como garantia na obtenção de recursos bancários (obviamente, com taxas um tanto elevadas). Outro exemplo clássico está nos estoques, nos quais há duas variáveis a observar. A primeira variável são os estoques encalhados, por serem itens fora de linha ou fora de moda. São itens que precisam ser liquidados, até como forma de liberar espaços imobilizados. A outra variável são os estoques excessivos. São itens que giram normalmente, mas cujo volume estocado está num patamar muito elevado, provocando um prazo médio de renovação exagerado. Neste caso, é perfeitamente possível promover a venda (com descontos especiais ou outros recursos de estímulo à demanda) dos volumes excedentes.
Além destes exemplos clássicos, um exame atento das demais contas pode revelar a existência de “dinheiro parado”. Alguns casos que podem ocorrer: aplicações financeiras que foram exigidas como “reciprocidade” em empréstimos; adiantamentos a fornecedores; impostos a recuperar.

Revisão dos prazos médios operacionais

As necessidades de capital de giro são decorrência quase direta dos prazos médios de operação e do volume de vendas. Raramente se adota a solução de reduzir vendas. Então, uma das possibilidades é reduzir os prazos médios de renovação de estoques e de recebimento das vendas e aumentar o prazo médio de pagamento das compras.
Estas modificações, em termos práticos, enfrentam algumas dificuldades, sendo a principal o imperativo ambiental. É difícil mudar prazos concedidos a clientes e prazo obtido junto a fornecedores, pois são questões de hábitos de mercado.
Porém, sempre existem possibilidades. Em todos os prazos, sempre que possível, se faz análise comparativa com os dados de concorrentes, podendo-se, para tanto, usar dados de publicações especializadas. Sempre que houver diferenças significativas, é o caso de avaliar as causas.
Além desta visão de mercado, alguns ajustes internos podem gerar pequenas melhorias que, no seu somatório, podem fazer a diferença necessária. Nos estoques, é possível fazer promoções de vendas para liquidar estoques excedentes ou ociosos, cuidando, porém, para que tais vendas sejam feitas a prazos curtos. Nas contas a receber, é possível estimular prazos mais curtos, podendo, para tanto, serem usados acréscimos menores e/ou incentivos aos vendedores. Com os fornecedores, embora seja possível negociar prazos mais longos, é necessário avaliar o impacto financeiro, pois, cada vez mais, há a oferta de bons descontos para compra em prazos mais curtos. Ainda em relação a fornecedores, não se pode cair na armadilha de compras em volumes maiores para conseguir prazos maiores. Aliás, pelo contrário, uma das formas de acelerar o giro de estoque é negociar a entrega parcelada das mercadorias ou materiais comprados.

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